Somos o resultado das nossas
memórias. Toda a experiência nos impregna com uma memória, podendo ser esta mais consciente ou não. A experiência em si é neutra e atribuímos-lhe um
resultado/significado, consoante o que esperávamos ou desejaríamos que fosse.
Mesmo sem expectativas patentes, o ego condiciona e compara com resultados
anteriores ou tem uma predisposição nata para determinado desfecho.
Assim sendo, a memória é a
consequência que fica dessa mesma interpretação.
Relembro uma imagem que chegou até
mim, em que ainda não tinha um ano e estava nos braços da minha mãe. Tudo o que
via era a sua cara bonita, calma e sorridente, com um cabelo preto caído pelos
ombros. Na minha percepção de bebé, só via aquele maravilhoso ser, como
extensão de mim, sem perceber onde eu começava e ela acabava. Era como se nós as
duas não tivéssemos forma, sendo esta completa naquele momento.
A memória que ficou selada em mim,
foi a da identidade. A minha mãe era a minha identidade. E passados meses em
que existiu separação física, por mudança de país, eu perdera a minha
identidade....
Andei anos a trabalhar o perdão.
Perdão a mim mesma e aos meus pais. E só agora tenho a consciência da identidade.
Nos Yoga Sutras, que são aforismos
codificados quatro séculos antes de Cristo, por Patanjali, é referida a
memória, como registo, resultado das experiências.
Y.S. 1.11 Anubhūta - Vishaya -
Asampramoshah Smritih
"A memória será o facto de não
tirar ao objecto de experiência o seu carácter de "consequência", já
que lembrar-se é fazer de forma que o facto fique conforme a experiência que
tive precedentemente a ela."
Ou seja, na minha experiência com a
minha mãe, a memória que mais tarde ficou, resumiu-se à perda de identidade.
Ficando eu sozinha, sem ela por perto, deixaria de ser eu. Pois eu era a
totalidade com ela. E essa memória condicionou a minha vida até ter a consciência de que sou um ser individual, ligado a todos os seres.
Quantas memórias guardamos sem saber?
Seremos condicionados por elas?