sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Pertença



Somos seres de necessidades. Sejam elas físicas, emocionais, espirituais.....sentimos algo dentro de nós que nos impulsiona para um mais qualquer.
Temos necessidade de fazer parte de algo e até rotulamos, como por exemplo, os "nórdicos", "religiosos", "motards", "desportistas", "espirituais"...... E se encontramos alguém da nossa espécie de associação, até nos sentimos acompanhados como se fossem irmãos ou existisse uma ligação profunda de reconhecimento. 
Talvez essa premência esteja inscrita no ADN pela existência de dois seres, os nossos pais, que sendo nós, o resultado dessa união, fique como que em memória, a tal extensão de pertença. Ou poderá ser apenas uma comunicação de alma, a dizer que nunca estamos sozinhos, mesmo que individualizados num corpo. O mesmo que tem um inúmero de agrupamentos sejam órgãos, células, nutrientes.....
Ao longo dos tempos formamos famílias, grupos, redes de estruturas, muitas delas inferiores a algumas que vemos na natureza, sejam as colmeias ou até mesmo as formigas, passando pelas alcateias.... As melhores redes, a meu ver, serão sempre as que não são domesticáveis porque tem uma essência inócua de interesses partidários e poderes factuais e individuais de medos exacerbados.
Pergunto-me vezes sem conta se serão os medos que nos unem. A solidão, a doença, a morte, o ficar sem nada, como um corpo nu, despido de matéria mas vestido de amarras sociais e preconceitos de nações. Os mesmos pânicos que nos impelem a avançar para aqui ou acolá como se a morte nos viesse roubar o melhor que existe, quando poderá vir a dar-nos a verdadeira liberdade de Ser. E se por um lado avançamos para experienciarmos quem somos, por outro lado, vacilamos entre o ficar e ir para além da zona de conforto, o tal limiar na corda de trapézio que nos causa vertigens, mesmo para quem não sofre de tal. Mais tarde reconhecemos a mudança, não aquela das circunstâncias exteriores, mas a transformação dentro de nós de paciência, tolerância, visão ou mesmo fluidez com a própria vida. E nesta última, até que a resistência vá de vez num voo sem regresso, como o último adeus de um milhafre a pique..... Até que essa prisão se transforme na maior liberdade que o ser possa ter, é preciso, muito mais que arriscar, confiar que somos um maravilhoso ser, grandioso, sublime em constante expressão e expansão até ao infinito.....
O mesmo in-finito dentro de cada ser - a alma que sem fim avança e se manifesta. 

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Yoga e quem sou eu?




Quando nos unimos profundamente com yoga e vamos para além das posturas, meditação ou mantras, sentimos necessidade de conhecer, não apenas quem somos, mas também tudo o que nos envolve, toca, mexe e transcende o nosso ser. 
Um dos princípios que rege esta filosofia de vida, é Satya, palavra sânscrita, que quer dizer, "verdade" ou "correcto".
Muitas vezes questiono o que é verdade, perante circunstâncias mais desafiadoras, em que a linha é demasiado ténue, para ser algo universal. A minha verdade é apenas um ponto de vista, ditado por factores interiores, circunstancionais, sociais, educacionais, personalidade...... Já para não falar de ego e da envolvencia emocional que posso ter perante a situação. 
O ser espectadora de mim mesma, para tomar a imparcialidade do evento, tem sido um grande processo na minha evolução. Porque a minha verdade, pode nem sempre ser tão inócua, quanto seria de esperar. E a mesma veracidade pode ser inverdade para outrem. 
Vivemos numa sociedade de jogos de faz de conta e esconde-esconde. Faz-se de conta que se é feliz sendo autónomo ou autómato..... Esconde-se a realidade de viver de uns, em detrimento de outros, hipnotizados, acreditando que não têm poder de escolha, pela opção do medo versus segurança. 
Onde está a verdade???
Na escolha de questionar, procurar, lutar, sentir e unir-se aqueles que fazem parte desse mesmo axioma. 
No fundo, o que ressoa comigo, é a minha verdade. E sempre que estou presente a mim mesma, no sentir, sei, com todo o meu ser, para onde ir ou ficar.
A verdade é ser verdadeira comigo mesma, e em primeiro lugar. E a tua?