quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Fazer nenhum






Há uma certa conotação negativa social, no facto de não fazer nada. Habituei-me a constantes respostas, desse nada, trocado por reuniões. E há reuniões para tudo, como se pode imaginar. No fundo, desculpas, momentos que se escondem no tempo, uns para prazeres, outros para dissabores....
Pergunto-me vezes sem conta, se "reunião" é desculpa para tudo, ou mesmo com um fundo de verdade, porque engloba mais do que uma pessoa, juntas, num contexto e conteúdo, de certo modo interessante, quanto mais não seja, para um dos intervenientes. 
Estava eu a dizer, que prefiro não fazer nada e dizê-lo abertamente, a ter a necessidade de colocar uma ocupação infundada e inverídica.... Sou dona de mim e todo o socialmente correcto, nem sempre me move, para ser incorrecta comigo. 
Grandes pensadores, gênios, retiravam parte do seu tempo para dormitar, contemplar ou estar junto à natureza, porque no relaxamento a mente deixa de controlar e permite-nos aceder a outras partes nossas, mas escondidas pela necessidade de estarmos em alerta constante, seja de tarefas presentes e ou futuras. Grande exemplo histórico, é a famosa palavra grega "Eureka" que significa "Encontrei" atribuída a Arquimedes ao entrar numa banheira com água. Saindo nu e correndo eufórico porque achou a forma de medir o volume de uma coroa, sem a derreter, no sentido de perceber se era de ouro puro ou teria mais alguma matéria acoplada. 
O banho é uma forma de relaxamento mental e físico.
Um outro exemplo, nas palavras de Philipp Frank, um colega científico de Einstein, resume o gênio: "Desde o princípio, separava-se das crianças da sua idade e entregava-se aos seus sonhos e reflexões. " Ele gostava de se isolar nos seu pensamentos de realidades diferentes daquela que vemos.

Neste momento, deitada no sofá e com um sentimento de profunda paz, aprecio apenas e só, o não fazer nada, o Ser. Consciente de mim, do meu corpo, do mundo profissional, emocional, respiro com tranquilidade a serenidade de existir. Simplesmente isso - existir!! E enquanto respiro este estado, crio as minhas realidades neste plano. 
Dificilmente acredito que apenas estamos aqui e muito menos que somos um corpo. A minha realidade é abrangente demais para restringir a tal e enquanto beneficio de tal, apraz-me dizer, que sabe maravilhosamente bem sentir a serenidade que me invade.
Não sei se te lembras das vezes que a sentiste. Nem tão pouco se usufruíste da totalidade dessa Paz. Ou até mesmo se te perguntaste até onde te levaria. 
Mas sei que é um estado disponível a todos os que se permitam sentir, sem nada fazer. 
Experimenta, nem que seja um pequeno momento.  


segunda-feira, 23 de maio de 2016

Escolhas



Todos temos momentos em que tudo questionamos. Passamos fases desafiadoras que nos param no tempo e tudo se move em slow motion como se fosse  pedida uma autorização especial para continuar. 
Que aprendi com esta experiência?, pergunto-me a cada passagem destas, que me tornam quase zombie mas ao mesmo tempo, com sentidos tão em alerta que pareço a minha felina a dormir a sesta e a mexer as orelhas, atenta aos ruídos, mas preguiçosa demais para abrir os olhos.
Afinal, que aprendi desta vez? Visto que fui eu própria que escolhi passar pela situação...

Nesta passagem pela vida e na feitura da minha própria história nela mesma, no meu prisma pessoal não existem vilões nem vítimas, e sim responsabilidade e escolha. Assim sendo, escolhi passar por aqui e agora permito-me sentir e absorver o que sou capaz, neste nível onde me encontro. Mas ao mesmo tempo escolho outro tipo de experiência, de riso, brincadeira, gargalhada para tirar lições igualmente valiosas!

Acima de tudo, escolho-me!! 

sábado, 26 de março de 2016

Simplicidade





E se por momentos deixássemos que a simplicidade tomasse conta de nós como a criança que ri apenas pela expressão diferente de uma face familiar, ou o que chamamos de careta. 
Se é tão fácil fazer expressões, para ver esse sorriso em alguém que amamos, também o será para nós mesmos?? E se experimentássemos? 
Podemos sentir alguma faísca de ridículo ao fazê-lo, mas é o mesmo sentimento expresso nestes diálogos de mímica com um ser tão puro? Ou a beleza de um sorriso numa criança é bem superior a qualquer tipo de alegria dentro de nós??
Tantas vezes me esqueço de mim, para dar maior atenção ao outro, porque naquele momento é urgente. Ou será apenas um hábito de prioridade mal coordenado com a vontade??
O outro, mesmo sendo extensão de mim, não deixa de ser algo exterior.... Se lhe presto a máxima atenção, onde estou a colocar-me? Onde está o meu centro nesse momento?
Contudo, não estou a tirar importância, de quando em vez, existirem situações em que é mesmo necessário dar o meu melhor, na interajuda com o outro. Mas fazer de tal atitude, um ritual para me sentir, de alguma forma, melhor, útil, validada, etc..... Não! Não acredito que tal possa funcionar para ser mais feliz. E atenção que escrevi "ser" e não "estar" mais feliz.
E com este pensamento, encontro-me em frente ao espelho do cabeleireiro a fazer caretas a mim mesma e a rir dos meus sorrisos e expressões caricatas! E tudo isto, porque permiti que a simplicidade me invadisse e aumentasse o humor. 

Permites-te?

sábado, 5 de março de 2016

Estados de ser






Existe um estado meditativo de profunda paz. Pode ser dois segundos ou três minutos. Nessa fusão de serenidade, as palavras não fazem sentido porque tudo expande e deixo de ter corpo, forma, parece que tudo muda, até mesmo o lugar onde estou sentada.
Depois de muitos anos a meditar, pelo simples prazer de sentir esse êxtase, hoje obtenho esse estado de olhos abertos. Não a toda a hora, mas quando me permito.
Vinha a conduzir nesse estado, e até parecia que o carro se dirigia a ele mesmo, levando-me junto. O meu corpo fazia as manobras necessárias para ir onde o cérebro já tinha programado com destino certo.
Com um sorriso no rosto e como se o tempo estivesse parado enquanto eu passava, sentia a união com tudo, a estrada, as pessoas atarefadas, as nuvens, os semáforos.....

Engraçado como determinados estados produzidos dentro de nós, podem despertar outros cada vez mais profundos, como uma espiral sem fim. O meu desafio é manter cada vez mais tempo este sentir.
E claro, como sou humana, enquanto escrevo estas vibrações, com o veículo parado, depressa saí desse estado, quando alguém estacionou ao meu lado, batendo com a porta da sua carroça no meu carro!! Em segundos lá se foi a paz!!!
Voltei ao meu estado de união, ri para mim e pensei "afinal, isto é viver, interagir, crescer, morrer para re-viver".....
E re-vivi nesse momento porque me permiti sorrir para a minha mente, com os seus juízos rápidos e parar a importância que estava a dar ao material e à individualidade.... O outro carro, dito carroça, mas o meu, ah, o meu até lhe chamo de Blue e tem personalidade....
Quantas vezes me deixo cair nestas teias mentais, de separação!???
Pelo menos hoje a consciência falou mais alto! E sabes que mais? Ainda sinto esta união, paz, amor.
Consegues sentir?
É tão maravilhosamente bom.... Que as palavras não chegam....